O ano de 2024 no agronegócio foi marcado por diversos momentos que impactaram diretamente o rendimento e a produtividade do produtor rural. Alguns assuntos trouxeram lições e realidades que levaram o produtor a manter os olhos bem abertos, a fim de identificar os melhores momentos para sair de crises que poderiam ter afetado toda a cadeia.
O agronegócio brasileiro em 2024 mostrou mais uma vez a relevância econômica e geopolítica no cenário global e apesar de muitos desafios, conseguiu se consolidar mais como uma grande potência mundial através de uma combinação de grandes avanços tecnológicos, acordos comerciais e capacidade de adaptação.
Em um ano que foi marcado por intensas negociações internacionais, recorde de produção e alterações em legislações, o agronegócio brasileiro se mostrou capaz e estratégico para alcançar números expressivos em todas as cadeias que o envolvem.
Talvez um dos fatos mais relevantes para o agro brasileiro em 2024 tenha sido o clima. Sendo considerado o ano mais quente já registrado, o setor foi altamente impactado. De acordo com dados da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), os incêndios causaram um prejuízo estimado em mais de R$ 14,7 bilhões, em 2,8 milhões de hectares de propriedades rurais. As condições climáticas extremas e incêndios ameaçaram a produção agrícola, elevando os custos e pressionando os preços dos alimentos. Não podemos esquecer da tragédia no Rio Grande do Sul causada pelas enchentes, onde mais de 180 pessoas perderam a vida, milhares de pessoas tiveram que sair de casa, as estradas ficaram bloqueadas e a maioria das atividades econômicas foram suspensas. Além disso, de acordo com a Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul) as enchentes causaram um impacto devastador no agronegócio do estado, com perdas agrícolas estimadas em aproximadamente R$ 3,1 bilhões.
Nesse sentido, o meio ambiente foi um tema amplamente discutido, não somente pelo clima ter sido um dos fatores preponderantes, mas também pelo fato da importância da proteção do setor. O assunto da vez foi a regularização ambiental, processo pela qual um proprietário de imóvel rural obtém do poder público, a confirmação de que a propriedade está em conformidade com as normas ambientais, evitando assim embargos, multas e restrições de acesso ao crédito. “Não tem como pensar em uma atividade rural sem se preocupar com a regularização ambiental”, disse a advogada especialista em direito ambiental e agronegócio Anna Carolina de Oliveira.
O fator financeiro também teve um papel predominante em 2024, mostrando ao produtor rural a importância da gestão financeira como aliada em momentos de crise. Sendo assim, foi possível observar que a gestão moderna das finanças no agronegócio, aliada a práticas de tecnologia são capazes de reduzir riscos e ajudar o produtor a conduzir melhor a empresa rural. “Se eu tiver que dar uma dica ao produtor é, trabalhe o máximo possível com capital próprio, os custos dos empréstimos estão altos e os juros estão corroendo todos os lucros do produtor rural, sem contar a dificuldade em conseguir crédito rural e quem consegue tem que deixar grandes garantias. Já foi aquele período onde o produtor conseguia trabalhar endividado, atualmente a gestão financeira tem sido de extrema relevância”, explicou o consultor de Gestão Financeira e Governança Randolfo Augusto de Oliveira.
2024 foi marcado também por um assunto delicado, as Recuperações Judiciais. Um levantamento realizado pela Serasa Experian revelou que os pedidos de RJ de produtores rurais que atuam como pessoa física aumentaram 529% com relação ao mesmo período de 2023. “Esse aumento expressivo se deve a dois fatores, maior segurança jurídica para o produtor rural ingressar com o pedido de recuperação judicial, pois no final de 2020 houve uma alteração na lei de recuperação judicial e falência, que trouxe maior segurança jurídica para o Produtor Rural e o que antes era uma aventura jurídica, cheia de riscos, tornou-se algo certeiro, encorajando o produtor a fazer uso da ferramenta e também reflexo de uma crise muito grave no setor”, comentou o advogado Leandro Amaral.
A operação declara agro foi outro tema que rondou muito durante este ano. A operação deflagrada pela Receita Federal teve como finalidade identificar erros no recolhimento do imposto de renda das pessoas físicas que exploram a atividade rural na situação de arrendatário e daqueles que são os proprietários dos imóveis rurais em arrendamento. O advogado especialista em tributação no agronegócio Leonardo Amaral comentou que é muito comum ocorrer erro na apuração do imposto quando estamos tratando de arrendamento rural, seja pelo arrendatário ou pelo proprietário da fazenda. “Orientamos que, tanto o produtor rural arrendatário quanto o proprietário de imóvel em arrendamento, que já foi notificado pela Receita Federal ou que ainda não foi, mas se identificou com as situações irregulares, busquem orientações junto ao contador e/ou advogado de sua confiança para avaliar os riscos e a possibilidade de fazer a autorregularização para evitar multas”.
Destaca-se ainda o Acordo Mercosul-União Europeia, que depois de anos de discussão, foi finalmente concluído em 6 de dezembro de 2024. Além da aprovação da lei que regula o mercado de carbono e a abertura de 211 novos mercados para produtos como carnes, grãos e ovos.