A guerra comercial entre as duas maiores economias do mundo está a todo vapor. O assunto não é novidade, mas nos últimos dias tem aflorado cada vez mais, deixando empresas, mercados e consumidores com incertezas, à medida que os temores de uma recessão global aumentam.
Segundo o planejador financeiro e especialista em investimentos João Marco Leão, os Estados Unidos voltaram a impor tarifas sobre produtos da China porque acusam o país de dar muitas vantagens para as empresas locais, especialmente nos setores de tecnologia e energia limpa. A ideia é “proteger” a indústria americana. A China, por sua vez, promete responder à altura.
Essas tarifas poderão criar algum tipo de desestabilização do comércio global de alimentos e commodities mesmo o foco principal sendo a disputa por tecnologia, uma vez que a China já usou o setor agrícola como forma de retaliação no passado. “Se ela parar de comprar soja, milho ou carne dos EUA, isso pode mudar os preços mundiais e bagunçar os fluxos de exportação e importação de vários países, inclusive do Brasil”, afirma Leão.
Sendo assim, o agronegócio brasileiro deve ficar atendo. Se de um lado existe a possibilidade de uma oportunidade, pois o Brasil poderá vender mais para a China, ocupando o espaço deixado pelos EUA, tem também o lado do risco. “Ficar muito exposto às decisões de um único país é muito arriscado, pois se a China resolver mudar as regras ou diminuir as compras, o Brasil sentiria um impacto direto”. O especialista alerta também para a dependência brasileira frente ao mercado Chinês, situação que já é uma realidade em alguns segmentos. “A China já compra mais de 30% do que o agro brasileiro exporta. Se essa fatia crescer ainda mais, ficamos muito vulneráveis a qualquer mudança por lá – seja econômica, política ou sanitária”.
Apesar do Brasil não correr nenhum risco direto de se envolver nesse conflito, ele pode sofrer efeitos colaterais. “Como o mundo está cada vez mais polarizado entre os blocos liderados por China e EUA, o Brasil pode ser pressionado a se alinhar com um dos lados em algumas situações. Além disso, qualquer impacto nas cadeias globais pode afetar a nossa economia”, explica Leão.
João Marco Leão, planejador financeiro e especialista em investimentos alerta que o momento agora é de o produtor rural brasileiro acompanhar os movimentos do mercado internacional, buscar diversificar as opções de venda, quando possível, usar ferramentas de proteção, como contratos futuros (hedge) e investir em qualidade e sustentabilidade. Já por parte do Governo Federal, seria o momento ideal para a adoção de estratégias como: abertura de novos mercados para o agro em outros países, melhorar a infraestrutura, possibilitando assim, uma maior competitividade ao produtor, estimular a exportação de produtos com mais valor agregado e fortalecer programas de crédito, inovação e assistência técnica no campo.
“A disputa entre EUA e China é séria e pode ter impactos no mundo inteiro. Para o Brasil, especialmente para o agro, pode ser um momento de ganhar mercado e mostrar força. Com atenção aos cenários, boas escolhas e uma atuação coordenada entre produtores, empresas e governo, o agro brasileiro tem tudo para transformar esse desafio em uma grande oportunidade de crescimento e destaque no cenário global”, conclui.