A Federação das Indústrias de São Paulo realizou recentemente uma pesquisa com produtores rurais e pecuaristas do país com o objetivo de entender melhor a relação financeira dos mesmos, em especial sobre financiamentos para a safra. Dentre os produtores rurais pesquisados, 29% dos agricultores e 35% dos pecuaristas preferem utilizar recursos próprios em vez de recorrer a crédito. Entre os motivos estão as altas taxas de juros e as burocracias com documentos, além da demora na obtenção do crédito.
69% dos produtores rurais entrevistados revelaram que na última safra recorreram a financiamentos, frente a 52% dos pecuaristas. Desses, 33% obtiveram recursos em bancos oficiais, 17% em bancos privados, 15% em revendas e 13% em cooperativas de crédito.
Diante disso, é cada é notável que o agronegócio precisa se planejar cada vez mais para conseguir gerir de forma sustentável o negócio por meio de capitalização. Mas afinal, o que é estar capitalizado, como conseguir isso?
Antes de falamos sobre capitalização é preciso entender a real situação do cenário do produtor rural. Segundo o Consultor de Gestão Financeira e Governança Randolfo Augusto de Oliveira, as margens de lucro do produtor rural vêm diminuindo a cada ano que se passa, com exceção dos anos agrícolas 20/21 e 21/22, que foram muito bons para o agro em geral, com isso, o produtor rural que não tem tratado a fazenda como uma empresa de verdade, não está conseguindo sustentar a atividade. “A profissionalização da empresa rural é baseada em três pilares, governança, tecnologia e financeiro e ações bem desenvolvidas podem evidenciar o negócio e ajudar o produtor rural a se recolocar no mercado”.
Segundo Oliveira o primeiro passo a ser dado é investir na gestão financeira, pois ela é capaz de mostrar clareza e fazer a diferença na rentabilidade do negócio do produtor, ou seja, o “produtor trabalhar capitalizado”. “Os custos dos recursos captados junto aos bancos e/ou terceiros, os famosos custeios, estão super altos, com perspectivas de aumentos ainda maiores e eles estão corroendo grande parte do lucro. Em alguns casos tem sido até maior que a geração de caixa do produtor, provocando uma dívida crescente e impagável, por este motivo, estar capitalizado nunca foi tão importante”.
O consultor explica que um produtor totalmente capitalizado é aquele que compra os insumos agrícolas à vista e paga os custos operacionais, como mão-de-obra, combustível, manutenção e outros, sem precisar pegar custeios e sim, usando recursos próprios. E ainda tem uma certa quantia de dinheiro aplicado, para alguma quebra de safra ou outra emergência. Isso faz com que o produtor rural tenha de 20 a 30% de aumento no lucro da empresa, pois ele ganha no desconto da compra dos insumos à vista e depois na eliminação das despesas por juros altos dos custeios. “Eu venho batendo na tecla de que esta capitalização precisa ser meta de todo produtor, pra não dizer obsessão e como tal, precisa de um plano estratégico a longo prazo para ser adquirida. Um detalhe importante, estar capitalizado não significa que você não pode fazer dívidas, pois dívidas fazem parte do próprio negócio.
Só que você irá fazer dívidas com novos investimentos, onde as parcelas a pagar precisam estar dentro da capacidade do produtor. A vantagem aqui é que o produtor capitalizado consegue fazer ótimos investimentos, comprando muitas vezes em valores abaixo do preço de mercado”, explica.
Alguns mecanismos podem ser seguidos para que o produtor rural consiga encontrar o caminho certo para a capitalização:
1º: Verifique qual tem sido os juros anuais pagos em reais aos bancos.
Caso você tenha dificuldade com esta busca, pegue o montante de recursos que você usa no ano como custeio e multiplique pelos juros médios anuais, que você terá quanto está gastando com juros.
2º: Observe quais os juros embutidos nas compras de insumos quando você os paga após a colheita. A conta é simples: é a diferença de valor entre os insumos à vista e a prazo.
3º: Analise qual tem sido ou será a sobra de caixa anual, caso você não teve ou não terá nenhum juro. Neste ponto é importante você ter em mãos todos os custos anuais, já que as receitas são mais visíveis e fáceis de serem obtidas.
4º: Examine então o impacto negativo que os juros vêm causando no seu negócio e calcule quantos anos você precisaria continuar tendo o resultado atual para você pagar todos seus empréstimos com bancos ou terceiros e passar a comprar tudo à vista.
5º: Somente faça novos investimentos em máquinas ou imóveis se o playback, quer dizer o retorno de investimento, for a curto prazo, e não tirar você do seu planejamento de capitalização.
A ajuda de especialistas também é um caminho importante a ser seguido. “Buscar profissionais capacitados para o desenvolvimento de estratégias financeiras é um caminho a ser percorrido constantemente”, conclui Randolfo Augusto de Oliveira.
