Aguardado com grande expectativa pelo mercado financeiro, o corte de gastos anunciando pelo Ministro Fernando Haddad no final de novembro, se mostrou tímido na visão de analistas, que não acreditam em uma economia de impacto de 70 bilhões de reais em dois anos, e de 327 bilhões de reais em cinco anos, conforme anunciando pelo Governo Federal.
Na realidade, os cortes serão insuficientes para garantir o cumprimento da meta de resultado primário zero em 2025. O consultor de Gestão Financeira e Governança Randolfo Augusto de Oliveira, explica que o corte de gastos estava sendo muito esperando por todos, pois acreditava-se que eles seriam suficientes para equilibrar as contas públicas a médio e longo prazo e passar aquela sensação de seriedade e credibilidade da equipe econômica. “Este corte tímido de gastos provocou uma reação tão ruim e rápida no mercado financeiro, no empresariado em geral no Brasil e também nos investidores externos, que a moeda Real desvalorizou tanto que o dólar passou pela primeira vez na história a casa dos R$6,00”, comenta.
No agro, esse anúncio teve grandes impactos. O efeito positivo, porém, passageiro, foi de aumento do preço de venda atual da soja, pois como a cotação é em dólar, base bushel Chicago, o valor final em reais teve um leve aumento. Por outro lado, como grande parte dos insumos agrícolas, também têm o preço atrelado ao dólar, esse reflexo do aumento do preço da soja poderá ser anulado. “Para piorar um pouco mais o cenário do país e do agronegócio, o Banco Central anunciou recentemente um aumento de 1 p.p na taxa Selic, passando agora para 12,25%. O aumento dos juros nas captações de custeios e financiamentos tem sido um dos grandes responsáveis pela difícil situação financeira que muitos produtores rurais se encontram atualmente, pois dependem bastante da oferta de crédito do Governo”, reforça Oliveira.
Vale salientar, que o produtor rural tem vivido momentos de escassez de recursos por meio das instituições financeiras, que também tem exigido garantias adicionais para a liberação dos mesmos. “É claro que o Governo fala que os juros para os produtores rurais são subsidiados, de modo a viabilizar a continuidade dos negócios, mas o que vemos é que algumas situações estão ficando impraticável e insuportável para grande parte dos produtores”.
Nesse sentido, o consultor dá algumas dicas para que os produtores rurais consigam se manter diante de um cenário nada favorável para o setor. “Procurar se capitalizar ao máximo, deixando o máximo de capital de giro próprio disponível na empresa e montar um plano para depender cada vez menos de custeios, já que os juros corroem grande parte do lucro do ano agrícola é uma saída inteligente”. Além disso, Oliveira recomenda que com estas fortes oscilações do preço de venda dos grãos e também de compra dos insumos, não vale a pena especular e tentar acertar um cenário favorável. “O produtor deve fazer uma proteção nos preços de venda dos grãos onde ele consiga, com aquela quantidade, pagar os insumos e garantir que eles fiquem em um valor relativamente atrativo”, conclui.