O agronegócio brasileiro atravessa um momento de grandes incertezas, influenciado por fatores internos e externos que impactam diretamente a rentabilidade e a sustentabilidade das atividades no campo. O consultor de Gestão Financeira e Governança da Agricompany, Randolfo Oliveira, faz uma análise sobre o cenário nacional e internacional e os reflexos que chegam ao produtor rural, além de sugerir caminhos práticos para que o setor consiga se proteger financeiramente e manter a competitividade.
Segundo ele, o cenário internacional ainda inspira cautela. As negociações entre Donald Trump e a China voltam a gerar dúvidas sobre o fluxo da soja no comércio global, o que traz volatilidade aos preços e exige atenção redobrada por parte dos produtores brasileiros. “Enquanto não houver clareza sobre os acordos comerciais entre as duas maiores economias do mundo, o mercado seguirá instável, e isso impacta diretamente o preço da soja e as decisões de comercialização aqui no Brasil”, explica Randolfo. Outro ponto levantado pelo consultor é a postura do governo americano em relação aos cartéis de grandes processadoras de carne, como a JBS, uma medida que demonstra o esforço de Trump em proteger os pecuaristas locais contra possíveis abusos de mercado. Na Europa, a França continua adotando uma política de forte proteção e subsídio aos seus produtores, o que também afeta a competitividade internacional.
No cenário interno, Oliveira destaca que o ambiente econômico segue desafiador. A taxa Selic, mantida em 15%, continua sendo um dos principais obstáculos para o crescimento do agronegócio, pois encarece o crédito e desestimula investimentos produtivos. “Sem perspectiva de redução no curto prazo, o produtor precisa buscar alternativas para não depender exclusivamente de financiamentos”, observa. Além disso, ele chama atenção para a retomada das discussões no Supremo Tribunal Federal sobre os benefícios fiscais concedidos aos defensivos agrícolas. Caso a isenção seja considerada inconstitucional, o custo dos defensivos pode subir entre 10% e 20%, afetando diretamente a margem de lucro do produtor e, em consequência, elevando o preço dos alimentos que chegam ao consumidor final. A reforma tributária e o descontrole dos gastos públicos também preocupam, pois aumentam a carga tributária e reduzem a confiança dos empresários, o que se reflete na dificuldade de planejamento e na insegurança do mercado.
Mesmo com tantas dúvidas, a produção de soja no Brasil deve registrar crescimento. De acordo com estimativas da Conab, a safra 2025/26 deve atingir 177 milhões de toneladas, um aumento de 3,6% em relação à safra anterior, que foi de 171 milhões. O avanço vem principalmente do aumento da produtividade média, que passou de 60 para 62 sacas por hectare. Porém, o especialista alerta que o consumo interno e as exportações não devem crescer no mesmo ritmo, o que pode elevar os estoques e pressionar o sistema de armazenagem, já bastante comprometido em diversas regiões.
Outro fator que tem tirado o sono dos produtores é a dificuldade na liberação dos créditos do Plano Safra 25/26. Segundo o consultor, as instituições financeiras estão mais criteriosas, reduzindo os valores disponíveis para custeio e exigindo garantias mais rígidas, como a alienação fiduciária. “Os bancos estão mais seletivos. Isso reforça a necessidade de o produtor rural ter uma gestão financeira sólida e demonstrar capacidade de pagamento. É um novo momento para o crédito rural”, explica.
Diante desse contexto, Randolfo Oliveira defende que o produtor rural adote uma postura mais estratégica e financeira, buscando proteção contra a volatilidade e fortalecendo o capital próprio. Ele recomenda que, em relação à instabilidade dos preços da soja, o produtor avalie três alternativas: travar parte da produção com tradings ou cooperativas, realizar operações de NDF na bolsa, caso disponha de capital de giro para as garantias, ou adquirir opções de venda (PUT), garantindo um preço mínimo para a soja. “A proteção de preço é uma ferramenta essencial para quem quer planejar e reduzir riscos”, enfatiza.
Outro ponto fundamental, segundo o consultor, é a necessidade de trabalhar capitalizado, reduzindo a dependência de terceiros. “Essa deve ser uma meta perseguida com disciplina. Quanto mais o produtor conseguir se organizar financeiramente, mais liberdade e segurança ele terá para enfrentar períodos de instabilidade.”
Realizar um diagnóstico financeiro completo, conduzido por profissionais especializados é uma saída estratégica. “O agro brasileiro continua forte, mas precisa ser cada vez mais profissional na gestão. Quem entende o cenário, se organiza e adota estratégias financeiras bem definidas, colhe resultados mesmo em tempos de incerteza e o bom é que existem diversas empresas que oferecem serviços com uma metodologia própria que ajuda o produtor a identificar gargalos e planejar o crescimento de forma sustentável, como a Agricompany”, conclui.





