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ESPECIALISTAS FAZEM BALANÇO DO SETOR EM 2024

Um ano com problemas climáticos, com frustrações, preços elevados, queda de produção e embates que acabaram fortalecendo ainda mais o setor, é assim que encerramos o ano de 2024, com dificuldades, mas também com pontos positivos.

 

Em coletiva de imprensa realizada no dia 11 de dezembro, a Confederação Nacional da Agricultura divulgou o balanço do agronegócio em 2024. Segundo a entidade, a expectativa era de fechar o ano com um PIB negativo, mas no último trimestre do ano houve uma recuperação positiva em diversas cadeias e a expectativa é que o PIB do agronegócio poderá atingir 2% de aumento. O diretor técnico da CNA, Bruno Lucchi mostrou ainda que o ciclo de aperto monetário elevou a taxa Selic, pressionou o custo de equalização do crédito rural e aumentou as taxas de juros com recursos livres. Com o avanço da inflação, o IPCA deve encerrar o ano acima do teto da meta de 4,50%.

Com relação as exportações, até o mês de novembro o país exportou 152,6 bilhões de dólares em bens derivados do setor, variação negativa de apenas 0,3% em relação a 2023. A expectativa é que até o final do ano esse valor chegue até 166 bilhões de dólares.

Apesar de notarmos uma leve melhora nas projeções, pode-se afirmar que foi um ano com grandes desafios. O consultor de mercado e engenheiro agrônomo Ênio Fernandes explicou que o produtor rural veio de anos extraordinários e acabou apostando muito em 2024 e com isso se frustrou ao perceber a queda forte de preços e também de produtividade devido à seca severa que atingiu o setor. “Quem está fora do agronegócio acha que o produtor consegue se proteger de tudo, mas isso é impossível, vimos o faturamento cair em níveis elevados, e as margens boas de safras passadas fizeram com que o produtor ficasse mais ousado e quando ele percebeu as margens apertadas, ficou inseguro, indeciso, viu a quebra de safra acontecendo, juros subindo e dívidas crescendo, gerando descapitalização”.

 

Segundo Ênio Fernandes, o cenário de dificuldade está tornando o produtor mais cauteloso, eles estão investindo mais em gestão, procurando empresas de planejamento e cuidando do patrimônio. “Observamos que o ano está fechando com quedas nas vendas de colheitadeiras, de tratores e muitos produtores pararam de investir. As crises mostram quem é parceiro do agro e quem não é, por isso, estar sempre investindo em planejamento é fundamental”.

O consultor de Gestão Financeira e Governança Randolfo Augusto de Oliveira define o ano com uma palavra: transição. Para ele, a geração mais antiga de produtores, os desbravadores do agro, que enxergam que o sucesso é mais porteira a dentro, está dando lugar aos sucessores que já tem um pensamento renovado e enxergam que a gestão porteira a fora é fundamental para os bons negócios. “Em 2024 essa nova geração está com o olhar diferente e mais profissionalizada, olhando para o futuro para evitar problemas que possam colocar a empresa rural em situações difíceis”. Além disso Oliveira explica que o produtor rural realizou investimentos grandes em anos onde as margens estavam boas e agora com os insumos elevados, endividamentos, a situação ficou mais difícil. “Agora é um momento crítico de análise financeira e o produtor precisa de uma boa gestão, pisar no freio, ver o comportamento do mercado e enxergar o futuro de maneira mais conservadora, sempre observando três cenários: realista, pessimista e otimista, o momento agora é o de transição”.

 

 

O advogado do agronegócio Leandro Amaral, relembra que no ano de 2023 às projeções eram de que 2024 seria um ano desafiador nos quesitos financeiro e econômico e que as recuperações judiciais de produtores rurais seriam grandes e o que era uma projeção, acabou se concretizando. “Esse aumento das recuperações judiciais se deve muito por conta da segurança jurídica, somado a um cenário crítico de endividamento”. Mas, para ele, o que mais ficou marcado em 2024 foi a virada de chave dos produtores e entidades quanto a assuntos polêmicos que nortearam o país e o mundo. “As entidades tiveram postura proativa em inúmeras situações, como exemplo cito o Caso do Carrefour, onde a união promoveu uma mobilização e um boicote frente a empresa. A mudança de postura das entidades do agro, sem depender do governo, é a prova de que estamos evoluindo”.